domingo, 14 de dezembro de 2008

Entrevista com Jeremy Rifkin



Antonio Cianciullo
Jornalista de La Repubblica

Jeremy Rifkin é economista, conselheiro da Comissão Européia no Parlamento Europeu e presidente da Foundation on Economic Trends de Washington

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A energia nuclear é uma tecnologia da Guerra Fria

Por detrás da multiplicação dos alarmes (das centrais nucleares francesas) há um fator estrutural? Há o envelhecimento de um parque nuclear central?

O problema é duplo. De um lado, pesa a decisão, não somente na França, de alongar a vida média das centrais nucleares para evitar, frente às dificuldades crescentes de construir novas plantas, o colapso da produção elétrica do setor. Neste ponto não se pode mais pensar que a ameaça somente vem do Leste. O risco atinge toda a Europa. Mas há outro fator estrutural do qual não se fala: o elenco dos maus funcionamentos e dos desgastes nas centrais nucleares é longuíssimo mesmo no caso de novos reatores. Isso pela simples razão que estas máquinas não são seguras. E as probabilidades de um incidente catastrófico não podem ser minimizadas.

Mas, no entanto, por muitos anos, os franceses viveram tranqüilamente ao lado dos seus 59 reatores nucleares.

E eles podem se considerar felizes por terem chegado até hoje contabilizando somente incidentes de nível não muito grave. Também é preciso ter em conta um fato fundamental: o risco não está ligado somente a problemas de funcionamento dos reatores. Há o transporte. Há um acúmulo de uma enorme quantidade de lixo que permanece perigoso durante várias eras geológicas. Há o perigo do terrorismo, que não é somente teórico, como o plano de ataque, recentemente desvendado na Austrália, o demonstra. Eu temo que o próximo 11 de Setembro implique uma central nuclear: a explosão é demasiadamente alta e cresce com o aumento do número dos reatores.

A nova série de incidentes foi noticiada com destaque pela imprensa francesa. Isso quer dizer que algo está mudando na opinião pública?

Sim, é um processo inicial, mas já claro. Isso porque a França está concretamente se interrogando sobre o seu futuro e sobre o papel da Europa no grande jogo energético que hoje se abre impulsionado fortemente por dois fatores inquestionáveis: a mudança climática e o crescimento do preço do petróleo. Os combustíveis fósseis pertencem ao passado: o Século 21 terá outro sentido e quem o compreender por primeiro, inclusive, terá a vantagem econômica.

Há quem acredite que para combater a mudança climática é preciso recorrer à energia nuclear.

A energia nuclear é a tecnologia da guerra fria. Ela pertence a um mundo dividido em dois onde os equilíbrios eram feitos pelo terror e por uma estrutura energética centralizada, que era filha, também economicamente, daquela lógica militar. O século que apenas se iniciou é o século da terceira Revolução Industrial. O século da Internet e a energia soft que é produzida a partir de baixo, nos bairros, nas casas, se articulando em rede, com entrada e saída, os fluxos de informação e da energia. É um modelo descentrado, democrático, mais confiável tanto do ponto de vista dos custos quanto daquele da independência da produção.

Não lhe parece uma utopia num mundo que luta desesperadamente pelo controle do último barril de petróleo?

Veja, um sinal de grande esperança vem precisamente da França. No dia 13 de Julho, em Paris, foi firmado o acordo pela constituição, no seio da União Européia (UE) da “União para o Mediterrâneo da Energia Solar”. É um evento epocal que faz recordar o momento em que um pequeno grupo de grandes sonhadores fundou a Comunidade Européia para o Aço e para o Carvão. Este ato mudou o futuro do Continente e hoje a Europa é chamada a dar um salto análogo.

Mas Sarkosy relançou a hipótese nuclear.

Há uma luta entre o passado e o futuro. Mas, com a decisão de Nicolas Sarkosy de lançar a “União para o Mediterrâneo da Energia Solar”, a França realiza um movimento estratégico indicando um projeto vencedor: usar o potencial tecnológico da orla Norte do Mediterrâneo para tornar utilizável a enorme quantidade de energia solar disponível na orla Sul e Leste. A “União para o Mediterrâneo” é a primeira pilastra deste grande projeto. Trata-se de sustentar os outros: o hidrogênio para armazenar a energia do sol, as redes inteligentes para difundi-la, os edifícios bio-climáticos para capturá-la. A direção é correta. Quem ainda está em dúvida então olhe para o que está acontecendo na outra França: a da energia nuclear.

Tradução cortesia de IHU Online do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS
Revista ECO 21 - agosto 2008

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